Conexões modernistas

Ninguém vence o espaço, mas conforma-se a ele e supera seu próprio nemo ao enfrentá-lo.
O arquiteto é o instrumento que traça a iminente conexão sinestésica entre pessoas e o meio, identificando assim um provável lugar. Um lugar do sensorial e do cognitivo gerador de experiência vivencial.
O Ballet Triádico da Bauhaus é uma exemplificação dessas conexões feitas a partir da reflexão modernista, que desvincula o homem de seus antepassados, de sua origem clássica. 

"Porquê o ballet triádico? Porque o três é um número eminentemente dominante, no qual o eu unitário e o seu oposto dualista são superados, começando então o coletivo. Depois dele vem o cinco, depois o sete, e assim por diante. O ballet deve ser entendido como uma dança da tríade, a troca do um, com o dois, com o três. Uma bailarina e dois bailarinos: doze danças e dezoito trajes. Mais além, a tríade é: forma, cor, espaço; as três dimensões do espaço: altura, profundidade e largura. As formas fundamentais: esfera, cubo e pirâmide; as cores fundamentais: vermelho, azul e amarelo. A tríade de dança, traje e música."


(Diário de Osca Schlemmer, 5 de julho de 1926. Fonte: http://tipografos.net/bauhaus/oskar-schlemmer.html) 

Nenhuma esfera da autocompreensão pode ser global. E todo espaço flutua em uma espuma de auto-afirmações análogas e limitadas. Mc Luhan divulgou o segredo do habitar em condições modernas. Para ele, a casa não é a extensão do corpo e nem pode ser comparada ao cosmos, pois passa a ser desfrutada como sistema de imunidade.
A casa substitui os sistemas de imunidade psico-semânticos da metafísica religiosa, como células habitacionais isoladas climaticamente e juridicamente. Trata-se, assim, de um apoio arquitetônico do direito de não prestar atenção no mundo exterior. Trata-se da extensão do corpo por exibir a preocupação por si mesmo. A casa como guardiã dos sonhos proporciona a conexão homem-cosmos, reafirma a ausência do mundo. Essa casa herdada dos modernos, desconectada do transcendental, da morte, da história, dos ancestrais, é a casa acósmica. Neste sentido, é o próprio centro do mundo.
Se na antiguidade e idade média, a imunidade era luxo. Os fortes ocupavam territórios e voltavam a abandoná-los. A casa, como ponto de apoio e conforto de um poder viver, ainda que finito, gerava exclusividades. 
Toda autoafirmação pontual produz interrupção na comunicação e nega o entorno. A crise da alma do mundo passa pelo habitar. A casa como objeto de arte, como escultura, por meio da especulação imobiliária se desvincula da história familiar e permite uma maior circulação de moradores. A decoração que estava conectada à ideia de sedentarismo, para os modernistas, perde o enfoque.
Casas flutuantes, sobre pilotis, próximas do céu, como a vista de um avião que podem pousar em qualquer lugar. Um contêiner desterritorializado. A casa não é mais fruto de seu território, mas é apenas um endereço, a localização de um consumidor que a adquiriu.
Eleger uma residência significa comprometer-se com a manutenção de um endereço. É ter um remetente  estar à disposição como destinatário. É estar localizado dentro de um sistema capitalista de facilidades, entregas e recebimento de contas. Mas se sociologicamente, a casa é o meio para a representação e para a identidade, talvez a sociedade tenha caminhado em direção à obtenção da casa como autorrealização e autoconsumo. Uma máquina de desejo. Planejada e projetada com climatização, energia, água... criando necessidades, consideradas básicas quanto à forma de habitar.





Casa Projetada por Frank Lloyd Wright, Phoenix, Arizona, em 1952, que levanta questões de preservação e mercado imobiliário ao necessitar ser reformada e vendida em 2012. (Imagem disponível em: http://blogs.phoenixnewtimes.com/jackalope/FLLW%20Home%201.jpg. Acessado em fevereiro de 2015. Ver também: http://mulher.uol.com.br/casa-e-decoracao/noticias/redacao/2013/03/26/casa-de-frank-lloyd-wright-acende-discussao-sobre-preservacao-nos-eua.htm e http://www.nytimes.com/2012/12/21/us/wright-house-in-phoenix-is-sold-after-fight-for-preservation.html)

O modernismo, por meio de regras claras e seu funcionalismo, evita as inquietações perceptivas e a desconcentração por meio de objetos únicos. Porém, se a inquietação  não permite o múltiplo enfoque ou a concentração em objeto diferente do inquietante. Mergulhar  na inquietação para solucioná-la abre espaço para novas reflexões ou para a evolução do mesmo objeto.

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